A brasileira Deborah Colker, coreógrafa, bailarina, musicista,
reconhecida internacionalmente, à frente de uma prestigiada academia de
dança, foi a 1ª mulher convidada a coreografar um espetáculo
do Cirque du Soleil, em 2006. Deborah, ao longo dos muitos anos de sua
carreira, sempre declarou que Michael Jackson foi sua maior inspiração
na dança, seu grande ídolo.
“O corpo virou um instrumento, virou uma orquestra na mão
desse cara. Um instrumento é pouco, porque o que ele fazia com os pés,
o que fazia com os joelhos, o que fazia com o pescoço dele, com as
mãos, ele é um cara de expressividade absurda, de uma criatividade
absurda”. (Ao Jornal Nacional de 26/06/09)
Em 26/06/09, ela escreveu, e a Folha de São Paulo publicou, este belo artigo especial em sua homenagem.
DEBORAH COLKER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ele era um bailarino. Qualquer um que olhasse Michael Jackson
dançando também queria dançar. E isso é a coisa mais importante que
pode haver no mundo dessa e de qualquer outra arte. O planeta inteiro -
crianças, adolescentes e adultos - passou a imitar as coreografias que
ele desenvolveu, seu breque, sua maneira de quebrar a música no corpo,
a forma como unia os passos ao ritmo.
O jeito de ele dançar era hip hop, era funk, era breakdance -mas não
resultava em nada disso, porque era reinvenção. Tinha as proporções de
um bailarino. Pernas compridas, mãos enormes, aqueles braços. Seu corpo
era completamente expressivo. Como Pelé, nasceu com as medidas
perfeitas.
A dança é uma vida muito árdua, exige grandes esforços. E Michael era
um símbolo total disso. Completamente meticuloso, perfeccionista.
Ficava visível que todos aqueles passos estavam milimetricamente
calculados. Uma precisão acima da perfeição. Mas, ao mesmo tempo, era
indisfarçável o prazer que sentia ao fazer aquilo. E nem precisava
dançar. No clipe que gravou aqui no Brasil, Michael quase só andava.
Mas com uma elegância e uma destreza comparáveis apenas às de Fred
Astaire - que de fato era um de seus ídolos.
Aprendi a ter prazer no meu ofício olhando Michael dançar. Se a minha companhia existe, se a dança está dentro de mim, responsabilizo totalmente esse homem por isso.
Ele teve momentos mais exuberantes, discos menos brilhantes, mas uma
festa sem Michael não acontece. É como se eu não tivesse ido.
Essas coisas são incomparáveis, mas John Lennon me passou pela cabeça.
Quando a gente vai ter a possibilidade de ter outro cara como esse?
Saímos perdendo.
A humanidade sem Michael Jackson está atrasada.
DEBORAH COLKER, 48, é bailarina e coreógrafa. ( Folha de S.Paulo- 26/06)
fonte: reidopop.com